quinta-feira, 7 de outubro de 2010

NOSSA SENHORA APARECIDA PADROEIRA DO BRASIL

Desde o descobrimento do Brasil uma nova força encheu de esperanças a Coroa Portuguesa, para conseguir êxito na colonização das terras descobertas. Era a força espiritual, representada pelos padres da Companhia de Jesus (Jesuítas), que apesar de recém-fundada, tinha conquistado a confiança do Rei Dom João III, que decidiu dar-lhes auxílio e proteção.

Por isso os padres jesuítas tiveram a honra de iniciar no Brasil um profundo trabalho catequético, com a ajuda da Monarquia Portuguesa. E com muita coragem e disposição dedicaram-se à conversão e evangelização das ferozes e selvagens tribos indígenas que povoavam nossa terra.

Dentre os muitos e audazes Padres que exercitaram heroicamente o ideal cristão em terras brasileiras, mencionamos Padre Manoel da Nóbrega, Padre Navarro, Padre Galvão e Padre José de Anchieta, que fundaram e trabalharam ativamente nos núcleos de colonização, que hoje são notáveis e importantes cidades, como São Paulo, Vitória, São Vicente, Anchieta e muitas outras.

A preocupação inicial era formar o povoado, construindo escolas, ambulatórios, centro de catequese, a fim de facilitar a fixação e o enraizamento do índio e de sua família, inclusive procurando catequiza-los no próprio idioma indígena. Com este procedimento racional, os padres criaram condições favoráveis para que as comunidades crescessem e se ampliassem.

Entre as diversas tribos existentes, algumas eram nômades, não se fixavam por longo tempo em nenhum lugar. Por isso mesmo, mereceram uma atenção mais especial dos Jesuítas, porque não permanecendo nos povoados, ao se deslocarem para outras regiões geralmente levavam algumas pessoas que já residiam na comunidade e causavam com a partida, um certo desânimo naqueles que permaneciam. E foi assim que a perseverança admirável dos missionárias, depois de insistentes tentativas, conseguiram vencer a resistência indígena e vagarosamente foi-se observando um processo de fixação, fazendo com que eles assumissem os deveres, obrigações e regalias no povoado sabiamente orientados pelos prelados. Organizaram um esquema de trabalho permanente, que os mantinha os índios sempre ocupados, produzindo para eles mesmos e para a comunidade.

Por outro lado, felizmente aquelas revoluções religiosas que ocorreram na Europa no século XVI e causaram tanto mal, não afetaram e nem influenciaram em nada, a nascente vida religiosa brasileira. O país nasceu sob o signo da Cruz, fiel ao evangelho do SENHOR JESUS e submissa a hierarquia eclesiástica apostólica romana, e assim continua até hoje. Em 1550 foi constituída a Diocese da Bahia e em 1575 fundada a Diocese do Rio de Janeiro. Hoje, o Brasil possuí dezenas de Arquidioceses, centenas de Dioceses, dezenas de Prelazias, diversas Eparquias e mais de 10.000 Paróquias espalhadas por todo o território nacional.

OS BANDEIRANTES

No alvorecer do século XVIII, os povoados já apresentavam um notável crescimento e o comércio era intenso pela multiplicidade de transações, movimentando e estimulando os habitantes que buscavam a conquista e consolidação de uma boa condição financeira. Foi quando também surgiu a "febre do ouro" , uma procura nervosa e obstinada do precioso metal, alimentando a idéia e o sonho em muita gente que queriam enriquecer de qualquer maneira.

A procura sistemática e corajosa, começou com os bandeirantes que partiam de Taubaté, SP, em demanda ao interior agreste, detendo-se em muitos lugares, onde imaginavam encontrar o ouro. Andavam pelos montes verdes e rochosos, varando torrentes, escalando tombadouros, passando por divisores de água e alcançando vales imensos, nos quais renascia sempre uma esperança de êxito, de concretizar o objetivo de suas incursões, satisfazendo a ambição e a audácia.

O ciclo das esmeraldas tinha encerrado com a morte do destemido bandeirante Fernão Dias. Agora era a vez dos bandeirantes José Gomes de Oliveira e seu ajudante Vicente Lopes, que saíram do Rio Paraíba, próximo a Taubaté e foram até as nascentes do Rio Doce em Minas Gerais, à procura de ouro. Depois veio Antônio Rodrigues Arzão, que seguindo o mesmo caminho, encontrou areias auríferas no Rio Casca. Depois vieram Salvador Fernando Furtado, Carlos Pedroso da Silveira, Bartolomeu Bueno, Tomás Lopes de Camargo, Francisco Bueno da Silva e muitos outros, que atingiram o cerro Tripui, criaram o primeiro povoado de Ouro Preto e descobriram também numerosas jazidas em Mariana e no Rio das Mortes.

AS MINAS DE OURO



As notícias se espalharam ligeiras, afinal era uma surpresa agradável e prometedora que excitou as pessoas e enervou todas as regiões do Brasil Colonial. Para as minas acorreram gente de todas as classes, cores e níveis sociais, ansiosos e cheios de esperança, vislumbrando a possibilidade de ganharem muito dinheiro. As jazidas foram literalmente invadidas por homens, mulheres, crianças e idosos, que largaram empregos e propriedades, para se aventurarem na extração do ouro.

Mas no meio de tanta gente, de pensamentos e instruções tão heterogêneos, começou a acorrer o inevitável representado por mal-entendidos, discussões, provocações, as pequenas brigas e os primeiros conflitos sérios entre os mineiros antigos e os novos mineradores. O ambiente degenerou de tal modo, que culminou com brigas violentas e muitas mortes, na longa e primitiva guerra dos "Emboabas".

A partir desta época, as dificuldades aumentaram para a maioria daqueles que demandavam às minas, porque eram assaltados e roubados, perdiam as suas economias e a condição mínima para poderem viver, por isso se sujeitavam as exigências dos "aliciadores" de mão de obra, que impunham um trabalho escravo com um máximo de empenho em troca de um salário reduzido. Também os negros trazidos da África como escravos, nos famosos e detestáveis navios negreiros e chegaram ao Brasil a partir do inicio do século XVI e mais precisamente, desde o ano 1540, eram levados para as minas onde trabalhavam sem cessar, para satisfazer a gula insaciável de enriquecimento de seus patrões. Suportavam uma cruel tirania em benefício de poucas pessoas que comandavam o esquema da extração mineral.

COROA PORTUGUESA

O Rei de Portugal tentou por diversas formas acabar com as brigas e criar normas para a exploração do ouro, objetivando proteger as classes menos favorecidas e garantir também a cobrança de seu imposto, que era de 1/5 sobre o total extraído, ou seja, 20% da produção global de ouro. Com este objetivo determinou que o metal fosse fundido em barras com o carimbo do Império, para serem autorizadas a sua comercialização.

Todavia, diversos fazendeiros, principalmente no interior de Minas Gerais, montaram instalações e adestraram um pessoal a fim de fazer a extração e o beneficiamento do metal, objetivando fugir do pagamento do Imposto de 20% (vinte por cento) exigido pelo Rei de Portugal. Dessa forma, eles fabricavam nas suas fundições as barras de ouro e aplicavam um carimbo do Império falsificado com tanta perfeição, que ninguém percebia e assim, comercializavam o ouro sem qualquer dificuldade.

CAPITANIA DE SÃO VICENTE

Como o quadrilátero aurífero de Minas Gerais pertencia a Capitania do Rio de Janeiro que territorialmente abrangia o atual Estado do Rio de Janeiro, Estado de Minas Gerais e Estado de São Paulo, por carta régia de 9 de Novembro de 1709, o Rei de Portugal desmembrou a Capitania em duas, mantendo a Capitania do Rio de Janeiro onde está o atual Estado do Rio de Janeiro, e a Capitania de São Vicente que abrangia os Estados de São Paulo e Minas Gerais. Os portugueses esperavam que com esta divisão, pudessem manter um maior controle sobre as minas e acabar de modo efetivo com as guerras e roubos, a fim de que o povo: escravos, brancos e índios, não fossem completamente explorados pela ganância irresistível de uma pequena classe privilegiada.

Artur de Sá foi o primeiro Governador da Capitania recém fundada de São Vicente e logo, implantou com certo sucesso uma organização na exploração do ouro, além de um severo policiamento para manter a disciplina e a ordem no garimpo. Mas na realidade, conseguiu isto por pouco tempo. A cobiça era muito grande e em conseqüência, oferecia uma perigosa margem para tramas diabólicas. Não havia fraternidade e nem piedade, uns poucos ganhavam fortunas, enquanto a maioria que realmente trabalhava, estava subjugada e escravizada. Para estes, a única solução possível, para neutralizar o peso da escravidão e aliviar os seus sofrimentos, era voltar-se para DEUS, com súplicas fervorosas, acompanhadas de muitas lágrimas e muita fé, pedindo ao CRIADOR que lhes concedessem misericórdia e justiça.

GOVERNADOR DA CAPITANIA



Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, homem de poucas palavras e muito religioso, pertencia a uma das mais ilustres famílias do Reino Português, tendo realizado em ocasiões diferentes, diversos serviços para o seu país, na Europa e nas Colônias Portuguesas de Ultramar.

Nasceu em 1688, estudou artes militares e estreou muito jovem na carreira das armas, lutando na guerra de sucessão na Espanha e depois, foi encarregado de trazer de retorno à Portugal, a tropa militar Portuguesa, durante o armistício que antecedeu a assinatura do tratado de Utrech.

Em 1716 concorreu com mais oito candidatos, atendendo ao convite da Coroa Portuguesa, para provimento do cargo de Governador e Capitão Geral da Capitania de São Vicente, no Brasil, cuja área abrangia os atuais Estados de São Paulo e Minas Gerais. Venceu o concurso por suas inegáveis e admiráveis qualidades. Em 22 de Dezembro de 1716, por despacho do Rei de Portugal, Dom João V, foi nomeado para o posto, sendo o terceiro Governador na história da Capitania.

Além do título de Conde de Assumar, possuía outros: Comendador da Ordem de São Cosme e Damião de Azere, Comendador da Ordem de Cristo do Conselho de Sua Majestade, Vice-Rei das Índias, Marquês de Caste o Novo e de Alorna, Sargento Mor de Batalha de seus Exércitos.

Antes de terminar o seu mandato governamental de 4 anos na Capitania de São Vicente, no ano de 1720 desmembrou sua Capitania em duas, por causa da grandeza do território, separando São Paulo de Minas Gerais, justamente definindo as áreas que hoje são ocupadas pelos dois Estados.

O Conde embarcou em Lisboa para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em Junho de 1717.

No mês de Agosto seguiu de navio para Santos, fazendo escala em Parati, onde deixou sua bagagem, que foi transportada por terra para a Vila de Guaratinguetá. De Santos viajou para São Paulo, a fim de tomar posse na sede da Capitania, onde chegou no dia 4 de Setembro.

No dia 8 de Setembro, dedicado a celebração da Natividade de NOSSA SENHORA, mandou um emissário levar às Minas, a Certidão de sua posse.

VIAGEM ÀS MINAS



A Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 3, de 1939, publicou nas páginas 295 a 316, o Diário completo da jornada feita por Dom Pedro de Almeida, desde o Rio de Janeiro até São Paulo, e desta cidade até as Minas em Ouro Preto e Mariana, no ano de 1717, um precioso documento descoberto no Arquivo do Governo Português, em Lisboa.

No dia 26 de Setembro de 1717, mandou outro emissário às Minas, para avisar a todos administradores de sua próxima visita. A viagem tinha como objetivo primordial conhecer e verificar as condições de trabalho nas Minas de Ribeirão do Carmo, hoje cidade de Mariana, nas Minas de São João Del Rei e de Vila Rica de Ouro Preto.

No dia seguinte, saiu de São Paulo e rumou em direção ao Vale Paraíba, parando primeiro em Mogi das Cruzes, depois em Jacareí, Caçapava, Taubaté, Pindamonhangaba, chegando à Vila de Guaratinguetá no dia 17 de Outubro e lá permaneceu até o dia 30, esperando por sua bagagem que havia deixado em Parati para ser enviada à Guaratinguetá em tropa de animais, onde só chegou no dia 28.

VEREADORES PREPARAM UM BANQUETE



Aqui, é particularmente importante fixarmos esta data de 17 de Outubro de 1717, porque existia dúvidas sobre a data exata da chegada de Sua Excelência, o Governador da Capitania, a Guaratinguetá. A mencionada Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, publicando o Diário completo da viagem, eliminou definitivamente todas as controvérsias sobre a data.

Na véspera, a Câmara Municipal contratou diversos pescadores para trazerem uma boa quantidade de peixes, que seriam preparados para o banquete, que foi elaborado com todo o requinte, objetivando agradar o Governador e sua comitiva.



Acesso ao Porto de Itaguaçú

PREPARATIVOS

Estavam no anoitecer do dia 16 de Outubro de 1717 e a temperatura era agradável, com uma suave brisa que agitava as ramadas das árvores. Os pescadores fizeram seus preparativos, colocaram as canoas no Rio Paraíba e remaram em busca dos peixes, fazendo os primeiros lanços de rede no porto de José Correia Leite. Com bastante habilidade e perícia, lançavam e recolhiam a rede em diversos lugares, mas os peixes não apareciam. As horas corriam ligeiras, o relógio já marcava 23 horas, sem que as redes dos barcos espalhados em diferentes áreas, conseguissem trazer um peixe sequer. Desiludidos, quase todos os pescadores abandonaram a pescaria aproximadamente a meia-noite, certos de que aquele dia não era próprio para a pescaria, como diziam: " os peixes tinham sumido do rio". Só permaneceu um barco, com Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos e tio de João.

PORTO DE ITAGUAÇÚ



Já rompia o dia com o clarão dos primeiros raios de sol, e os três pescadores estavam bem distantes do local onde iniciaram a pescaria. Aproximavam-se do porto de Itaguaçu, sem que seus esforços tivessem sido recompensados com uma boa quantidade de peixes. O Rio Paraíba que era o sustento deles, nunca tinha se portado assim, tão hostil. Mas não podiam desanimar, porque precisavam do dinheiro que receberiam com a venda dos peixes. Tinham sérios compromissos à serem atendidos e também, não é todo dia que chega um visitante ilustre em Guaratinguetá para ensejar-lhes a oportunidade de comercializar muitos peixes. Era uma chance que precisava ser aproveitada. Por causa da visita do Governador da Capitania, tinham sido recomendados pelo pessoal da Câmara: "se levassem muitos peixes seriam bem remunerados".



João Alves, o mais jovem, chegou a exclamar: "será que pescaram todos os peixes do rio e esqueceram de nos avisar?" E no silêncio da madrugada só se ouvia o riso humorado dos três, que sem compreenderem o que acontecia, comentavam o fato com tranqüilidade de espírito e plena aceitação da ocorrência , sem apelações, impropérios ou qualquer manifestação rancorosa. Sem dúvida, precisavam dos peixes e lutavam tenazmente para conseguí-los, mas aceitavam com dignidade o fracasso da pescaria.

Agora estavam no porto de Itaguaçú ... O suor brotava de suas fontes morenas, queimadas pelo sol, enquanto perseverantemente insistiam na faina de lograr êxito na pescaria. E aí aconteceu o imprevisível...

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